domingo, 15 de março de 2009

minh'avó


foto Henri Cartier-Bresson

Minh’avó caminhava pela grande casa.
Minh’avó muito pequena, até um dia desses,
caminhava pela grande casa.
Continuava com seus passos
seu cansaço
seus laços.


Minh’avó alterou a lei da física:
carregava no seu espinhaço tão frágil
décadas décadas décadas
datas datas datas
dias dias dias
carregava festas
aniversários
e algumas compras
carregava guerras
revoluções
e algumas brigas.

Teimosa, não se dava conta de toda essa carga
e olhava pela janela
o automóvel na rua
a moça na calçada
e ninguém mais em direção à igreja.


(do livro “Trem da memória”)

4 comentários:

Cosmunicando disse...

bagagem da vida... doce poema =)
bjos

Nirton Venancio disse...

bagagem que se leva por toda viagem...

Anônimo disse...

taí, gostei. me deu saudade da minha avó.

Nirton Venancio disse...

obrigado, Zeus.